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o que alimenta sua alma

Está pergunta está na moda: é tema de TEDs, está no centro de (quase) todos os conteúdos de autoconhecimento e serve de indagação constante de nove entre dez gurus digitais. Mas a onipresença não é ruim, ao contrário: nos serve de lembrete para algo que, sim, é importante entender antes de seguir em frente. Porque a verdade é que, por mais que saibamos o que alimenta nossa alma, o mundo vai passar o dia – a semana, o mês, o ano – tentando nos afastar do que viemos ao mundo fazer.

Explico com um caso pessoal. Eu sou blogueira. Nasci para compartilhar conteúdo escrito na internet. Modéstia leonina bem à parte, é algo que faço melhor do que muitas outras coisas. Mas taí o mundo gritando no meu ouvido todos os dias: “isto dá um trabalhão”, “quem lê blog em 2021?”, “seria mais útil focar nas redes sociais”, “textão a esta altura do campeonato? abre um canal no Youtube!”.

Na paralela, vem também a dona rotina me lembrando que meu trabalho é mais importante (porque, afinal, paga meus boletos) e que não dá pra parar tudo pra fazer um post por dia – mesmo levando em conta que sentar para escrever é a coisa mais simples, prática e rápida que sei fazer. Por fim, ele, o ego. “Você jura que vai escrever pra ter 100 acessos?” Puxa vida, quando criei meu ItGirls, blog que chegou a 40k acessos diários em determinado momento, eu achava que só 12 pessoas leriam e estava super ok com isso. Quando foi que esses números estratosféricos vieram para nos desviar do que queremos e devemos fazer?

Eu sei que ninguém lê blogs como lia em 2008. Eu também não leio. A concorrência das redes, com todos os seus recursos criados à base de bilhões de dólares, é cruel. A gente tem pressa, a gente quer praticidade, a gente quer o que está à altura do dedo. Ninguém tem tempo nem pro tal do “arraste aqui”, vamos falar a verdade. Ficamos mais preguiçosos. Isso sem contar com as novas gerações, que se deparam com dois parágrafos na legenda do Insta e já dizem “muito grande, alguém resume?”. Mas e daí?

Eu levei três parágrafos para chegar ao ponto para que só esteja aqui quem precisa estar por algum motivo. Por que você faz o que você faz? Eu vivo para escrever. Vivo para aprender coisas e poder passá-las adiante. Para pensar alto e transformar estes pensamentos em palavras enfileiradas. Talvez fosse mais fácil (hoje) ter um propósito mas ligado a vídeos e a imagens instagramáveis. Mas eu gosto mesmo é de escrever. E hoje, com tantas opções mais práticas e a mão, só vai me ler quem gosta mesmo de (me) ler.

Eu não leio blogs cotidianamente como lia em 2008, entrando na url mesmo sem saber se haveria coisa nova. Mas eu leria um blog se a Emily Weiss, se a Natalie Klein ou se a Gwyneth Paltrow resolvessem escrever em primeira pessoa (não estou me comparando a estas musas, mas falo no intuito de que temos mais tendência a seguir ideias de quem admiramos por alguma razão).

Fazer o 5 Sentidos do jeitinho que eu sonho – com minhas dicas, minhas reflexões, minhas pontes e minha curadoria de pessoas e assuntos – é um projeto que já está desenhado desde o Moleskine retrasado de ideias. Ter este espaço como um dia eu comecei o ItGirls em dezembro de 2007 (época em que 100 acessos era quase um portal para a fama), para alimentar a MINHA alma, é o que mais quero há tempos: como explicar não conseguir fazer?

A pergunta “por que você faz o que você faz?” é simples, é quase banalizada, mas é muito mais importante do que a gente pode imaginar. Eu escrevo para apresentar uma marca a uma pessoa, um profissional a alguém que busca aquele serviço, um livro a aquele que precisa daquele insight. Eu escrevo porque juntar palavras é o meu prazer, o meu grande barato. Eu escrevo mais porque quero escrever do que porque quero ser lida – parece improvável para uma leonina pensar assim, mas eu só conseguia trabalhar em revistas porque sempre construía minhas matérias “fingindo” que ninguém ia ler!

É a terceira – ou seria quarta? – vez que tento fazer renascer esse blog no meio de todas as outras tarefas que meu dia me exige. Mas se eu assumo que eu vim ao mundo para levar recados por meio de palavras que muitas vezes saem dos meus dedos sem que eu me dê conta do que estou fazendo (quase que como se uma voz tomasse meu corpo de mim), eu preciso ser mais insistente.

Afinal, já diz a famosa frase (atribuída às vezes a Mark Twain, mas sem confirmação exata), “Os dois dias mais importantes da sua vida são o dia em que você nasce e o dia em que descobre o porquê.”.