“Respira que passa.”; “é só coisa da sua cabeça.”; “você não tem nada, isto é falta de problema de verdade.”. “Medita por dez minutos que passa!”. Sério, quem fala para uma pessoa em plena crise de ansiedade meditar por dez minutos, acredite, NUNCA teve uma crise de ansiedade. Nunca ficou paralisado sem conseguir produzir, nunca teve dúvidas se estava com falta de ar de verdade ou imaginária, nunca sentiu medos completamente irracionais (geralmente conseguindo transformá-los em roteiros totalmente possíveis).
Ainda que com a melhor das intenções, a real é que quem dá conselho de ansiedade nem sempre calça (ou já calçou) o sapato do ansioso. Muitas páginas e perfis – muitas vezes até de profissionais da saúde – encapsulam algo que não tem como ser encapsulado numa receita única. Repito. Sei que a intenção de muitos é nobre e também sei que o mundo atual nos levou a criar fórmulas de tudo, de preferência para colocá-las à venda no Hotmart. Faz parte.
Mas só entende quem sente. E na hora que sente. Porque quando passa a gente meio que esquece, deixa boa parte da trajetória num cantinho perdido da memória. Ignora os momentos mais críticos, em que viu-se caído de volta no degrau zero mesmo depois de ter subido bravamente até o 25. Acha que nunca mais vai sentir aquilo de novo. Que está blindado, imunizado, protegido. Nem sempre está…
E DÁ PARA SE BLINDAR?
Saúde mental é como tomar banho: não adianta caprichar por 365 dias seguidos e depois “tirar férias” dos hábitos por dois meses achando que seguirá limpinho e cheiroso porque tem milhas acumuladas. Basta um deslize aqui, outro ali e certa predisposição pode vir a te lembrar do passado.
Já passei por muitos caminhos e sigo acreditando no papel do estudo de autoconhecimento, na yoga, na espiritualidade, em religião e até em terapias tidas como alternativas ou no tão famigerado processo de coaching (como em qualquer mercado, tem profissionais charlatões e profissionais sérios). Mas a minha versão atual acredita que não se pavimenta nada de longo prazo sem psicoterapia convencional e comprometimento com pequenas mudança de hábitos pouco a pouco. Um minutinho de controle de respiração aqui, dois dias de atividade física ali, uma escolha melhor de alimentos mais adiante e quando a gente vê chega na yoga, no fuso horário mais apropriado e até na meditação de dez ou muitos mais minutos. Sem os planos mirabolantes e superlativos do ego, com os pés no chão da sua mais profunda essência.
Um dia de cada vez, uma melhora de rotina a cada dia, um novo pensamento a cada rotina.
QUEM SOU EU?
Muitas vezes me questiono “mas quem sou eu para escrever sobre ansiedade?”, afinal não tenho formação em psicologia, psiquiatria nem nada do gênero. Mas a verdade é que eu sou a sua mãe que já tomou tarja preta por conta própria. A sua amiga que do nada sente o coração e/ou a respiração acelerar. A sua filha que tantas vezes sente no físico algo que só existe na mente. Ou sou você, que já conseguiu subir do degrau zero até o 25 por conta própria e acabou tombando lá pra baixo de novo, sem disposição alguma, pensando que jamais teria energia pra subir de novo – mas que em dado momento percebe que, ajudada por forças externas, já está de volta a algum ponto entre os degraus 8 e 12.
Mas, afinal, quem sou eu para escrever sobre ansiedade? Alguém que hoje está ali pelo degrau 14 ou 15. Com saudade do 25, nenhum plano de voltar ao zero e muita certeza de que, ainda nesta vida, dá pra passar no mínimo do degrau cem. Com folga!
imagem: instagram quadradinhas.ltg (Lucas Gehre)