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Já estávamos caminhando para isso antes mesmo da pandemia. Culpa da era do excesso, do reality, do algoritmo. Mas fato é que termos ficado tanto tempo trancados em casa (mesmo aquele seu amigo que não sossegou muito ficou mais preso do que ficaria em condições normais!) amplificou e antecipou este status: estamos – digitalmente – exaustos.

De um lado, os produtores de conteúdo estão com muito menos paciência para perguntas cotidianas e muito mais sensíveis ao que minimamente pode parecer (mesmo sem ser) um ataque de hater; do outro, os consumidores deste conteúdo não aguentam mais arrastar pra cima, entrar na lista de espera e fazer fila online para aprender a ganhar mais seguidores, mais dinheiro, mais qualidade de vida (!!!). E, vale lembrar, nestes últimos tempos (quase) todos nós somos produtores e consumidores ao mesmo tempo, então estamos exaustos, impacientes e desinteressados ao quadrado.

Na exaustão digital a gente começa a não querer mais saber onde estão os famosos e os conhecidos. Enjoa de aprender a comer, trabalhar, respirar. Passa a ter um mix improvável de vício e fobia por mídias sociais – fobia não deveria ser a antítese do vício?! Eu (re)fiz um Linkedin semanas atrás para ver algo na rede e minha energia de mantê-la não durou nem até preencher meu perfil ou decorar a senha, nunca mais entrei pra ver qual daquelas 20 pessoas aceitou meu convite de amizade.

O problema de termos internet ilimitada e redes sociais gratuitas é que a gente não faz curadoria. Nunca fez. Segue tudo, se inscreve em tudo, consome tudo,  não para para escolher. Imagine se tivesse que pagar dez centavos para cada perfil que acompanha no insta? Ou que só houvesse um volume realmente limitado de dados de internet para usar? 

Aposto que a maioria escolhe que streamings vai pagar e que jornais vai assinar. Pode até fazer um revezamento e alterná-los de tempos em tempos talvez, mas ao menos pensa duas vezes se precisa mesmo ter netflix-prime-globoplay-hbo-disneyplus-etc tudo ao mesmo tempo agora.

De todas as exaustões possíveis, no entanto, a digital é a mais fácil de se consertar: autoconhecimento é a resposta. Voltar a produzir e consumir com intenção, como era antes do algoritmo que envolve e aprisiona. Buscar propósito (razão de ser) no que você escreve e no que quer de fato ler. Fazer como as mães que diziam “na volta a gente compra” e pensar duas vezes antes de se inscrever para mais um curso, apertar mais um follow, encomendar mais um livro. Obrigar-se menos a seguir o que a gente acha que o Mark quer e fazer mais o que você sente vontade de fazer ou falar. Silenciar. Sumir e voltar.

Seremos melhores produtores e consumidores de conteúdo se respeitarmos mais nossa essência e menos o nosso ego imparável. Estamos todos (digitalmente) exaustos, mas nunca houve um momento tão propício para recomeçar.

digitalmente exaustos

ilustração: Coffee vector created by stories – www.freepik.com